“O rápido crescimento da inteligência artificial (IA) contaminou a comunidade de coaching, gerando uma enorme onda de entusiasmo e ansiedade”
Bachkirova, T. e Kemp, R. (2024).
Estudiosos da área de coaching organizacional tem publicado alguns trabalhos sobre os possíveis impactos da IA nos processos de coaching organizacional.
Bachkirova e Kemp nos brindam com um interessante artigo no qual focalizam a já antiga questão relacionada ao que seja coaching, qual o seu propósito, qual o valor único que agrega quando comparado com outras intervenções interpessoais.
Os autores levantam uma questão básica que ainda não foi abordada, ou seja, se IA atual tem condições de fazer o que poderia ser identificado como coaching.
Um estudo realizado por Passmore e Tee (2023) indica que não, pois não dispomos de critérios específicos consensados que caracterizem a atividade de coaching. Daí a necessidade de identificar estas características essenciais do coaching que permitam distingui-lo com clareza de outras intervenções organizacionais.
Segundo Bachkirova e Kemp (2023, p. 6) coaching não é programa de treinamento, nem consultoria, nem reflexão individual. Não é, também, a aplicação mecânica de modelos simplistas de um conjunto predeterminado de perguntas.”
Consideram que Coaching Organizacional é uma intervenção realizada por um profissional preparado do ponto de vista teórico e prático com as seguintes características:
* Uma análise conjunta – uma parceria que atende dúvidas que precisam ser esclarecidas para orientarem futuras ações, uma vez que qualquer processo de coaching exige a prontidão do cliente para reconhecer a necessidade do questionamento e do seu envolvimento/participação no processo de coaching.
Trata-se, pois, não só de uma oportunidade de solucionar um problema, mas principalmente de capacitar o cliente a expandir o uso produtivo do seu potencial.
Uma análise conjunta coach/coachee envolve, além dos aspectos racionais, também outros tais como os emocionais, de criatividade e de sensibilidade contextual próprias do ser humano. É por esta razão que os estudiosos consideram coaching como uma parceria entre coach e cliente/coachee, parceria esta cuja ausência inviabiliza o próprio processo de coaching e respectiva obtenção de resultados.
* Considera e compreende a experiência com foco na ação – Trata-se de um processo de interação contínua de troca entre clientes e profissionais que inclui também variáveis como idade, educação, características pessoais e crenças dos envolvidos, demandando uma abordagem individualizada do trabalho.
Como ressaltam os autores (p.9), a IA não consegue replicar a profundidade da introspecção e a adaptabilidade exigida para a verdadeira reflexividade de um coach humano.
Outro aspecto fundamental do coaching no contexto organizacional é a “aprendizagem com foco na ação”, estimulando o cliente a agir ao oferecer-lhe simultaneamente, uma abordagem individualizada o que pressupõe uma capacidade de análise crítica das situações, bem como de considerações de natureza moral e ética.
Sabe-se, entretanto, que os sistemas de IA não possuem crenças, pressupostas e criticidade próprios, não podendo replicar a profundidade da introspecção e a adaptabilidade demandadas por um processo de reflexão real.
* Base em valores – Uma característica essencial do coaching, nem sempre devidamente considerada, é o valor que este processo atribui ao coachee.